segunda-feira, 10 de março de 2014

Educação Escolar de Pessoas com Surdez Atendimento Educacional Especializado em Construção


Mirlene Ferreira Macedo Damázio
Josimário de Paula Ferreira

            Há séculos gestualistas e oralistas vem travando uma batalha política e epistemológica em prol da educação de pessoas com surdez. As pessoas com surdez vivem descontextualizadas e em segundo plano em uma condição de exclusão em suas relações sociais. A educação das pessoas que possuem surdez foi marcada por uma necessidade de corrigir um “defeito”. O surdo foi considerado uma pessoa deficiente que precisava ser reabilitada. Nessa concepção, como afirma DAMÁZIO e FERREIRA: “as pessoas com surdez eram consideradas como incapazes de gerenciar seus atos.” Acreditava-se que se não houvesse o desenvolvimento da fala ocorreria um “atrofiamento da mente”. O problema da educação das pessoas com surdez não pode continuar sendo centrado nessa ou naquela língua, como ficou até agora, mas deve levar-nos a compreender que o foco do fracasso escolar não está só nessa questão, mas também na qualidade e na eficiência das práticas pedagógicas. É preciso construir um campo de comunicação e interação amplo, possibilitando que as línguas tenham o seu lugar de destaque, mas que não sejam o centro de tudo o que acontece nesse processo.     
            A nova Política de Educação no Brasil vem tecendo fios direcionais que possibilitam superar uma visão centrada de homem, sociedade, cultura e linguagem de forma fragmentária, que se consolidará numa perspectiva de inclusão de todos, com especial destaque para as pessoas com deficiências. Considerando a afirmação de DAMÁZIO e FERREIRA: A inclusão escolar implica mudança paradigmática, ou seja, uma concepção de homem, de mundo, de conhecimento, de sociedade, de educação e de escola, pautado nas dimensões do heterogêneo, da não dualidade, da não fragmentação, das diferenças multiculturais, do original e singular humano.”
             A Educação Especial, na perspectiva inclusiva, com o serviço complementar do Atendimento Educacional Especializado na escola/classe comum, oferece novas possibilidades para as pessoas com surdez, em que a Libras e a Língua Portuguesa escrita são línguas de comunicação e instrução.
            Para o desenvolvimento do AEE PS, onde os obstáculos e entraves existentes não se façam presentes, Damázio sugere o desenvolvimento de três momentos didático-pedagógicos: AEE em Libras, onde todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares são explicados nessa língua por um professor. Trata-se de um trabalho complementar ao que está sendo estudado em sala de aula. O atendimento ocorre diariamente, em horário contra turno. AEE para o Ensino da Língua Portuguesa, que tem como objetivo desenvolver a competência linguística, bem como textual dos alunos com surdez, para que sejam capazes de ler e escrever em Língua Portuguesa. O ensino é desenvolvido por um professor, preferencialmente, formado em Língua Portuguesa e que conheça os pressupostos linguísticos teóricos que norteiam o trabalho. O Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras inicia com o diagnóstico do aluno e ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras 
(preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra.
           
 A proposta de educação escolar inclusiva é um desafio, que para ser efetivada faz-se necessário considerar que os alunos com surdez também têm o direito de acesso ao conhecimento, à acessibilidade, bem como ao AEE. Enfim, pensar e construir uma prática pedagógica que se volte para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez, na escola, é fazer com que essa instituição esteja imersa nesse emaranhado de redes sociais, culturais e de saberes. É importante frisar que a perspectiva inclusiva rompe fronteiras, territórios, quebra preconceitos e procura dar ao ser humano com surdez, amplas possibilidades sociais e educacionais.


Referência Bibliográfica

Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional Especializado em Construção, p. 46-57.